sábado, 6 de novembro de 2010

57 VAGÕES, 03 MÁQUINAS E 01 MENINO CONTANDO

Ontem a saudade me pegou e me trouxe muita coisa que “só eu” sei como era bom, contudo, algumas delas sei que já que foram vidas por muitos outros que saberão reconhecer o quão eram legais. Acordar cedo era sinônimo de mais tempo pra diversão, correr em busca do rio sem medo de ser feliz, pegando ceriguela no sítio de seu Pedro antes ir verificar quantos PRÉAS haviam caído no fojo que tava armado na beira da cerca. É amigo, tinha de acordar cedo, do contrário a raposa chegava primeiro e papava tudo. Bom, mas isso era apenas algumas das coisas que deixaram saudades. Bom mesmo era ver o trem passar, duas vezes por dia sem nenhum dia falhar, da porta da frente eu contando vagão por vagão, e a noite quando o trem passava tarde, eu já deitado não podia contar, mas sabia cada som que iria ser ouvido, era como se eu estivesse olhando o trem, mesmo se ele ainda viesse longe bem longe, mas eu podia antecipar o próximo barulho de toda aquela parafernália. O trem que passava em frente de minha casa era imponente e metia medo, mas ao mesmo tempo era fascinante e todo menino queria pelo menos ter coragem de pegar uma carona no monstro de ferro. Ao parar para manobras era a nossa chance e lá estávamos mexendo, subindo, botando moeda pra ser esmagada, entre outras traquinagens da época. E o trem ? ele ainda passa, não com a mesma freqüência de antes, mas também não há mais quem se ocupe em contar seus vagões, nem tampouco imaginar seus movimentos. Hoje as vezes lembro que cada um de nós temos nossos trens da vida, coisas que são rotinas e simplicidade para muitos, mas que para a gente é algo tão fascinante e extraordinário, de uma forma que quem inventou não tinha idéia do quanto. Assim são os trens, as ceriguelas, as macaúbas, os fojos, os preás e etc, etc, etc....!

MANOEL DE SOUSA LACERDA - NETO LACERDA